Pesquisa da Transparência Internacional que mediu a percepção e a experiência com desvios na América Latina e Caribe
Mais da metade dos brasileiros (54%) acham que a corrupçãoaumentou no país. Outros 11% relataram pagamento de propinapara ter acesso a algum serviço público básico, como atendimento médico, obtenção de vaga em escola ou alguma licença. A constatação é do mais recente estudo da Transparência Internacional, a 10ª edição do Barômetro Global da Corrupção, lançada nesta segunda-feira.
Realizada de janeiro a março de 2019, a pesquisa foi feita em 18 países da América Latina e do Caribe, com mais de 17 mil participantes. No Brasil, onde 1 mil pessoas foram entrevistadas, foi o Instituto Ipsos quem conduziu a pesquisa.
O diretor-executivo da Transparência Internacional Brasil, Bruno Brandão, afirmou que o índice brasileiro de relato de suborno é importante por ser um dos mais baixos no continente. Apenas Costa Rica (7%) e Barbados (9%) tiveram índices menores.
— Isso é fundamental porque o brasileiro gosta de pensar que a corrupção é parte do dia a dia, da cultura, e que está no DNA do brasileiro. Na verdade, a experiência de corromper um funcionário público é muito mais rara do que se imagina. Em outros países, esse número é muito maior. No México, por exemplo, 34%. Na Venezuela, 50% — declarou ele.
Brandão afirma que o situação mais grave do país está na "grande corrupção", na "promiscuidade entre o poder econômico e o poder político".
— Um grande problema da corrupção reside nos processos de contratação pública e licitações, nas eleições, na política partidária. E, sim, a corrupção está no dia a dia do brasileiro. Mas não tanto na corrupção que ele pratica, e sim nas consequências gravíssimas da grande corrupção.
Apesar de a maioria dos brasileiros enxergar crescimento na corrupção, a população parece ser otimista em relação ao seu poder de combatê-la. Para 82% dos entrevistados, o cidadão comum pode fazer a diferença nessa luta. A média é superior à registrada no restante da região, onde 77% acreditam nisso. É um nível consistente de altíssimo engajamento e um dos maiores, não somente na América Latina, mas no mundo inteiro, segundo Bruno Brandão.
Para 90% dos entrevistados brasileiros, a corrupção é um grande problema do país, enquanto a média da região é de 85%. Quase dois terços, 63%, avaliam que todos ou a maioria dos membros do Congresso Nacional é corrupta, enquanto essa taxa era de 57% no estudo de 2017. O índice é de 57% em relação à Presidência da República e sua equipe, 54% para o funcionalismo federal e de 62% para funcionários de governos locais.
A percepção de corrupção no Judiciário disparou nos dois últimos anos, partindo de 21% em 2017 para os 34% atuais. Em relação a ONGs, a percepção de 36% dos entrevistados é de que a maioria dos integrantes desse tipo de organização está envolvido com corrupção. Apenas no México essa taxa é maior (44%).
Constatações gerais
De acordo com o Barômetro, numa taxa semelhante à registrada no Brasil, 53% dos entrevistados acham que a corrupção aumentou nos últimos 12 meses. Para 16%, ela diminuiu nesse período.
Mais da metade das pessoas (57%) acham que seu governo não está fazendo um bom trabalho na luta contra a corrupção, enquanto 39% acreditam que sim. A maioria dos entrevistados também acredita que presidentes, primeiros-ministros e parlamentares são vistos como os mais corruptos, que favorecem questões particulares em vez do interesse público.
Outra revelação é que o suborno é tido como algo normal para muitos. Mais de um a cada cinco pessoas que usaram serviços públicos no último ano disseram ter pago suborno. Quase a mesma taxa disse ter sofrido extorsão sexual, situação em que cidadãos são forçados a oferecer favores sexuais em troca de algo, ao usar serviços públicos ou afirmou conhecer alguém que sofreu. Por fim, o estudo mostra que algum tipo de suborno foi oferecido a um em cada quatro cidadãos em troca de votos nos últimos cinco anos.